30 de jun. de 2008

Quanto mais precisamos do rio, mais turva tornamos suas águas.

Essa frase me veio num lampejo poético, ou será filosófico???

Bem, a questão é que é exatamente assim que agimos, na vida pessoal, corporativa e social.

Quando estamos estressados e necessitados de relaxamento e distração, simplesmente nos afastamos, nos colocamos reclusos, e surpresa, só pensamos no fato que nos aflige.

Quando a empresa está mal, precisando retomar crescimento, e encontrar uma saída para crises, o que fazemos??? Pioramos seu ambiente interno, pressionamos as pessoas, induzimos o falatório negativo pelos corredores.

Por que temos esta habilidade em fazer tudo errado, exatamente na direção contrária de nossas necessidades???

Por que não podemos procurar ajuda, facilitar o acesso de quem pode nos trazer respostas ou consolo, por quê temos de dificultar tudo???

Por que somos viciados nas mazelas de nossa humanidade, gostamos de nos sentir assim, fracos, oprimidos, derrotados. Se não curtirmos essa dor que nos impomos, não saberemos depois apreciar a tranqüilidade, a paz, a vitória. Mas ainda mais que isso, por quê impomos insuportavelmente isso as pessoas que nos cercam? Por que não podemos ao menos permitir-lhes a tentativa?

Se não queremos beber do rio, por que não podemos simplesmente nos afastar e morrer na desidratação, que mórbida necessidade temos de turvar as águas que poderiam nos salvar???

26 de jun. de 2008

Minhas jabuticabas.

Esta semana fui confrontada com a mortalidade.
Ví mulheres que admiro morrerem em idade mais que produtiva intelectualmente.
Li um texto (postado abaixo) que me fez pensar e muito sobre a minha mortalidade. Parei e pensei sobre o que vive, e sobre o que ainda viverei.
Tentei contar minhas jabuticabas e parei, parei pq na conta percebi que ainda há tempo de colher mais. Antes de sentir o medo de chegar ao fim das jabuticabas, posso arregaçar as mangas, rodear as árvores cheias enquanto ainda é época de jabuticaba, e encher meu cesto. E o mais importante, colherei com cuidado, olhando cada fruta para ter a certeza de que colherei as mais suculentas, as mais doces, e graúdas, de forma que depois ao sentar-me para saboreá-las não descartarei nenhuma por estar ainda verde ou sem sabor. Quero muitas e muitas jabuticabas, mas só as melhores.




SOBRE TEMPO E JABUTICABAS ( autor desconhecido)

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.
Basta o essencial !