
Quando eu era criança, minha mãe me castigava fazendo com que me calasse, ela me mandava ficar sem dizer uma palavra por alguns minutos, isso era a morte pra mim.
Hoje não é diferente.
Seja qual for a forma de castigo que queira aplicar-me, creia, sairei ilesa, a tortura não me atinge a menos que seja o silêncio.
Viage comigo horas a fio e não troque uma palavra sequer, se eu tomar a iniciativa, seja monossilábico. Ao compartilhar a mesa comigo, faça apenas isso, compartilhe o móvel, de resto, olhe atravéz de mim, nem sequer permita que a respiração demonstre sua presença no ressinto.
Ah, e a dica infalível, se eu perguntar o porque do silêncio, responde o mais mansamente que puder "nada, não é nada". E o olhar, esse é vital para o golpe final, ao responder, fixe seus olhos nos meus de forma vazia, com nada a expressar.
Acredite em muito pouco tempo, terei morrido, apagado qualquer lampejo de vida que reste, seja qual for a iniciativa que antes te incomodava, já não existirá mais.
Não reagirei mais sob qualquer arroubo de sorriso, piada, afeto, abraço, beijo, flor, amor, sexo ou cor. Certamente manterei-me presente por mais um tempo, tenho essa mórbida mania de velar-me, mas depois passa, e ai eu mesma enterro o corpo.