16 de out. de 2009

Cheiro de vida

Quando era pequena adorava brincar na chuva.

Quando aquelas tempestades de verão se anunciavam eu ficava animada, excitada por "driblar" a vigilância da minha mãe e ir para o quintal, brincar sob uma enorme mangueira no fundo do quintal onde cresci.

Normalmente essa aventura terminava com algumas palmadas, um banho acompanhado de sermão e alguns minutos de castigo que me levavam a dormir.
Hoje, quase 30 anos depois dias chuvosos, os ditos dias cinza, me entristecem. Me trazem muita vontade de passá-lo dormindo, para que ele termine logo e para que então o Sol me traga um novo dia azulado e feliz. Acontece que morando em São Paulo, deixar de viver os dias chuvosos é entregar-se a depressão, considerando a vocação da cidade para os dias cinzentos.

Mas eu não posso continuar me entregando a esta terrível reminiscensa do passado, que ainda me faz acreditar que sair na chuva me fará levar broncas e palmadas.

Chega, hoje venci. Escolhi sair na chuva, permitir que ela me molhasse sem dramas ou promessas de gripes e pneumonias, e ao sair num dia chuvoso reencontrei o animo da infância para brincar na chuva, ao passar por uma praça de convivencia do meu bairro senti algo muito familiar, a principio não soube identificar, mas sentí-me feliz, alegre, parei alí por alguns momentos e percebi que era o cheiro, aquele cheiro de mato molhado que me alegrava na infancia estava ali.


Lembrei então que no verão costumo usar um sabonete que, segundo meu marido, tem cheiro de mato molhado... que delícia. Conseguiram captar a alegria da minha infancia e colocá-la ao meu alcance num frasco, basta que eu queira revivê-la.

Ao voltar daquela caminhada chuvosa, entreguei-me a um  delicioso banho cheio de cheiro de mato molhado, e depois dele, não fui para o castigo ou para a cama, segui com a vida, revivendo a alegria que um dia de chuva me traz.

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