30 de set. de 2009

Marcas da Vida Vivida

Sempre vi beleza na velhice, não sabia exatamente porque, mas o rosto marcado pelo tempo sempre teve algo que me chamou atenção.



Hoje, ao observar com mais atenção, alguns pequenos detalhes, entendi essa minha admiração.


Ao ver três senhoras conversando sobre um terrível acidente na região metropolitana de São Paulo, elas deixavam claro o significado de cada ruga.


Uma delas, a que liderava a conversa, tinha a boca expressiva,com lábios que certamente foram carnudos e sedutores na juventude, mas ao calar-se esses lábios de acomodavam de forma naturalmente convexa. Seus olhos acompanham este desenho, e sua afirmativa era fatalista – “...acharam 11 corpos.” – e então seus olhos se perdiam no vazio fora da janela do ônibus.


A segunda, sem piscar seus olhos miúdos, onde não conseguia-se distinguir a Iris da menina dos olhos, consentiu submissa – “...é.” – os lábios desta, finos e inexpressivos, enrugados no canto superior não marcavam qualquer cor naquele rosto, apenas estavam ali, funcionais, e usados sempre com submissão.


A ultima, esta com uma única contribuição à conversa tinha uma expressão tranqüila, com rugas nos cantos dos olhos, que pareciam descansar sobre uma outrora, “corada bochecha”, neles ainda haviam brilho, mais manso e terno que talvez o tenha sido no passado, mas nem por isso menos belo. Mas o que mais me chamou atenção foram seus lábios, estes repolsavam tranqüilos numa posição que lhe parecia familiar, confortável, com uma intimidade que só o tempo traz, eles pareciam sorrir, mesmo quando calados, e até durante seu rápido e doce comentário – “...Deus queira que estejam errados.”


Então eu compreendi, as rugas são os músculos de um atleta, o rosto. Passamos a vida inteira nos preparando para uma prova final, nesta prova medirão como vivemos, haverão as rugas da impaciência, da intolerância, da crítica, da piedade, do afeto, do amor. Nisto está a beleza da velhice, em expressar nestas rugas a forma como se viveu. Por fim continuaremos sendo medidos por nossa beleza, mas esta não se conquista com cremes ou plásticas, esta estará expressa por nossos sentimentos, nosso comportamento durante toda a vida, esse sim será o responsável por desenhar quem somos, e por ensinar aos que virão que suas escolhas deixarão marcar, não apenas nos outros ou no mundo mas principalmente em nós. Estas marcas nos definirão.


Não existe portanto um velho feio e enrugado, mas as marcas de uma juventude vivida sem cuidados, os mais importantes, os que tratam da alma humana.

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